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Edital

Traições

Há algum tempo, em Ashland, na cidade onde eu morava, vi uma das mulheres mais fortes que conheci nos Estados Unidos cair. Após três meses de saidas, flertes casuais e paqueras descomprometidas, ela sucumbiu, talvez aos seus instintos, talvez às suas necessidades, e traiu o namorado, com o qual possui uma relação de 4 anos.

                Se o homem é considerado o ser mais adaptável do planeta, e forte o suficiente superar desilusões amorosas ou governar um país, o que existe, então, nos relacionamentos que o torna tão sucetível?

Será a traição um ato de fraqueza ou de muita coragem? Coragem para deixar os instintos mais selvagens transpirarem e dar vazão ao próprio desejo. Coragem para fazer algo que é comumente mal  visto, e em alguns casos até contra a lei.

Se a promessa ao pé do altar baseada no juntos na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe não é o suficiente, então, o que mais será?

Uma coisa é certa. Todos, indistintamente, se deparam com a traição. Será ela, então, algo inerente à raça humana? Algo, talvez, que assim como o ar, não poderiamos viver sem? Ou será que Rousseau estava certo? A sociedade é que corrompe o homem. Será a traição algo de amor ou de instinto? Amor próprio suficiente para não trair a própria vontade de trair. Ou instinto de apenas obedecer a essa vontade sem nem pensar. Ou será os dois? Ou será isso apenas um papo cretino?

No islamismo, não é considerado traição um homem possuir até quatro esposas. O próprio Maomé teve 16 casamentos simultaneos. Em algumas das primeiras civilizações, as mulheres eram detentoras desse direito. Quando seus maridos iam à guerra, elas eram estimuladas a ter filhos com outros parceiros para dar continuidade ao clã.  Devida a essas circunstancias, seria ainda bom senso ou apenas egoismo pedir por fidelidade? Será traição, então, algo relativo? Algo que depende apenas do referencial? E caso seja, por que para o mundo ocidental o refencial é a monogamia? No próprio Velho Testamento, Jacó teve duas mulheres e treze filhos, e a sua prole deu origem às Trezes Tribos de Israel. Os Mórmons também eram poligamos até 1890.

Será a traição algo mais forte do que nós? Que motivos levam a ela? Eu trai minha ex-namorada com um cara. Usei a desculpa de que o estava fazendo com alguém que realmente amava, pessoa essa que, inclusive, já conhecia, gostava e possuia uma relação de afeto antes mesmo do próprio namoro, o que embora seja um bom argumento, não torna, claro, meu ato mais licito. Depois, a trai com um cara que mal conhecia, mas que estava a fim de ficar e usei a desculpa de que era apenas um garoto, sem relevância emocional alguma, e ela, por sua vez, não deveria se sentir ameaçada ou, pelo menos, não tão mal por causa disso. Quando acabaram as desculpas, trai pelo simples ato de trair, porque tinha virado uma rotina para mim, quase como beber Coca-cola.  Pronto. Já posso me considerar completo? Será que passei por todas as fases de uma relação típica da pós-modernidade? Flerte, transa casual no primeiro encontro, promessas solenes de amor eterno e, finalmente, traição. Ou será que sou apenas mais um canalha?

Eu não pude deixar de pensar que dentro deste âmbito sexual tão confuso no qual se econtra a nossa sociedade, com direito a menagens à trois, casas de swing para troca de casais, disk sexo, bissexualidade, voyeurismo e pansexualidade, qual seria mesmo o conceito de traição? Não será algo mutável com o tempo e com a ocasião? Não será algo que por mais que rotulemos nunca conseguiremos definir? Ou não? O mais provável é que seja mesmo bullshit, e chifre realmente não existe, é apenas algo que colocam na sua cabeça.

Sobre O Zepelim

.♠ No ano de 1953 conheci o Madson, ou Moica (como era chamado na época) . Ainda morávamos na Africa do Sul, onde seu avô, Durvalindo da Silva Campos, tinha uma fábrica de papel higiênico. Mudamos para Budapeste, onde passamos toda a nossa infância empinando pipas e brincando com o meu cachorro, o Bob. Porém, perdemos o contato desde que me mudei para o Hawaii. Fiquei sabendo do paradeiro do Madson atráves da notícia de capa do Le Monde, onde tive a oportunidade de saber que ele havia construido uma casa em Istambul e montava maquetes de argila da cidade de Deus. Nostalgicos beijos Moica, saudades dos velhos tempos .♠ (Por Ana Carolina Dias)

Discussão

2 comentários sobre “Traições

  1. Traição. O que aprendi com ela?
    Simplesmente que o ato de trair e de ser traído, deixam as sensações parecidas.

    Publicado por marina anfetamina | abril 13, 2009, 9:11 pm
  2. adoro traição e adorei o texto ^^

    Publicado por Papillon | maio 3, 2009, 11:02 pm

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